Adeus Led Slay

19/08/2011 00:22

A Led Slay acabou, como a conhecemos. Silenciou, acendeu as luzes das cinco da manhã e a pista ficou vazia. O galpão gigante que passava os mais "perdíveis" programas da televisão na madrugada. O estacionamento que acabava em um pântano onde sabe lá que saía dali depois da meia-noite. O barzinho ao lado, sempre cheio. Aquele telão que estava sempre tocando um show do Metallica ou do Judas , não importa qual fosse o evento da noite, mas sempre estavam lá os abnegados (e namorados) vendo o vídeo sem conseguir ouvir um som que fosse. O churrasco, o Francisquino Lambiano, as noites grunge, hard, gothic, heavy... Ah, o Kings of Metal. 

 

Mas acabou. 

 

O primeiro palco de muita gente. O único palco de outra boa leva de bandas. O melhor palco para a maioria. O mais alto, com certeza. Os amplificadores estourados, a bateria sem retorno, a luz que cegava os vocalistas, o "pentelho" (isso é piada interna, pessoal, não fiquem imaginando), a pick-up tocando noite sim noite também Ballroom Blitz, Hocus Pocus, Wasted Years e um monte de músicas cuja a graça era adivinhar "o que diabos é isso?". 

 

E acabou. 

 

Em 2008, o RUST IN BEER não era nada, absolutamente nada, procurava seu espaço numa área teoricamente dominada. A Led ainda enchia aos sábados e nas sextas só rolava DJ. Nós procurando shows e a Led era aquele templo inalcançável. Até que um dia recebemos via Orkut (uma espécie de Led Slay da Internet, todo mundo fala mal, mas pra largar é osso...) uma mensagem do Twiggão: "querem tocar dia 12 de julho?". Era "só" o Dia Mundial do Rock e foi nossa primeira oportunidade na casa. Nosso segundo show na vida. A Led proporcionou. Faith No More, Velvet Revolver, Metallica e sei lá mais o que, e nós fechando a noite. Às cinco da manhã nós subimos no palco e tocamos por 30 minutos. Não tinha mais ninguém e pediram que continuássemos. Fizemos mais até que as luzes se acenderam e acabou.

 

Depois fizemos diversas vezes shows memoráveis, outros nem tanto. Todos os novos músicos da banda estrearam na Led. Guizão, Renato e Fábio. Até o Spilack em sua breve passagem deu seus pulos no palco nas nuvens. Fizemos até hoje pela única vez a íntegra do Rust in Peace. Foi lá que fizemos também a festa de lançamento do Endgame, tocando quatro músicas do CD que nem o MEGADETH tocava ainda. Dois duelos espetaculares (onde não demos nem chance pra eles :-) ) com o No Remorse lotaram a casa. Abrimos pro Fever, Nervo Chaos, tocamos em noite completamente hard rock para absolutamente ninguém. Até Metallica fizemos lá uma vez! Tocamos em noite que fazia algo perto de 6º e noutras que o calor era tanto que tivemos que encurtar o show. Lucas já cantou sem voz. Murilo já teve um ameaçador querendo matá-lo. Alex já batucou com quase 40º de febre. Valia tudo, era Led Slay.

 

Mas realmente acabou. O dono pediu o terreno e com certeza vai criar ali mais um monstrengo de cimento e "apertamentos" de 30 metros quadrados. Nunca mais uma guitarra vai solar naquele local, a não ser que seja um garoto treinando no seu quarto. Garoto esse que provavelmente não saberá que está em cima de território sagrado. Fica só a história e a memória. A casa não estava mais enchendo no final, eram poucos os fins de semana com público realmente de destaque, mas era um pessoal fiel, presente e que conhecia as bandas. E que agora está órfão. A Zona Leste ficou mais triste e silenciosa. Os donos encontrarão outro espaço, mas jamais será a mesma coisa.

 

Nós do RUST IN BEER só temos a agradecer ao Twiggão e toda equipe pela prestatividade, camaradagem, amizade, respeito e fichas de cerveja que acompanharam esses três anos. Não haverá um show de despedida e é melhor assim. Fica a última imagem do último show. Uma sexta-feira fria, com cerca de 200 pessoas na plateia, uma pista vazia, mas um pessoal insano, um show onde saímos suados e satisfeitos. Um show honesto como era a Led nos seus últimos dias.  

 

Valeu, Led Slay. O RUST IN BEER agradece o espaço e se coloca à diposição para participar do cast da nova casa. Que venha a Led 2.0, mas jamais esqueceremos do templo do rock underground de São Paulo.